8 de julho de 2015

Cinamomo -a perigosa árvore de Santa Bárbara


cacho de frutos maduros do cinamomo

Uma árvore originária do sul da Ásia e Austrália e que tem na mesma família membros bastante famosos como o cedro, o mogno e o neem.  Também é conhecida pelos nomes de árvore-santa, jasmim-de-cachorro, jasmim-de-caiena, lírio-da-índia, loureiro-grego, santa-bárbara e outros. Foi disseminada através do globo para fins paisagísticos mas apesar de muito ornamental, acabou se tornando extremamente indesejável nas Américas e outros continentes...

A exótica invasora prefere matas ciliares


semente do cinamomo na mão

Também descobri mais essa semente aqui em Resende, por pura curiosidade e bisbilhotação. Aqueles cachos exóticos de frutinhas amarelas não passam despercebidos, tanto que acabei me achegando pra beira do rio e apanhando algumas delas. Depois de esmagá-las fiquei bastante surpreso com o formato raro de suas sementes, lembrando a forma de  um balão. Este exemplar que descobri na beira do rio Paraíba do Sul não utrapassa os 10 metros mas essa espécie atinge até 20 metros de altura e proporciona uma ótima sombra. Depois descobri que também existe o cinamomo gigante, de até 40 metros e o cinamomo sombrinha, o menor deles, tendo entre 7 e 12 metros de altura.

Frutos e folhas do cinamomo  (Melia azedarach)

Frutos verde, maduro e semente do cinamomo na palma da mão
Fruto verde, maduro e semente
Os problemas com esta espécie estão ligados a alta toxidade de toda a planta e ao fato de se reproduzir facilmente, tendo se tornado uma invasora exótica e uma grande concorrente com as espécies nativas, especialmente em ambiente de mata ciliar. Suas folhas e seus frutos apresentam alcalóides neurotóxicos e saponinas que quando ingeridos provocam salivação, náuseas, vômitos, cólicas abdominais, diarréia intensa e até a depressão do sistema nervoso central. Esses sintomas atingem a maioria dos mamíferos mas as aves parecem imunes a eles e até se alimentam desses frutos. Grande parte dos acidentes ocorrem com crianças, que se vêem facilmente tentadas a comer as belas frutinhas, razão pela qual não deve ser cultivada próxima a parques infantis e playgrounds.

cacho de frutos do cinamomo  com rio ao fundo
...na beira do rio Paraíba do Sul.
E como tudo o que é ruim também é muito bom, boa parte dessas substâncias tóxicas tem sido utilizadas como inseticidas contra carrapatos e as larvas do mosquito da dengue. Outra vantagem é o seu rápido crescimento, que pode chegar aos 3,5 metros por ano e também por ser descídua, perde suas folhas na estação de frio e seca e assim deixando passar mais luz solar, enquanto na estação chuvosa e quente proporciona ótimo sombreamento.

galhos, folhas e frutos do cinamomo

Qualidades e defeitos á parte, vamos ao que realmente me interessa nessa árvore, as suas sementes. Seu formato é extremamente singular, nunca ví uma semente tão ornamental, parecendo um balão quando vista de lado e com uma estrela, se vista de cima, incuindo o bônus de ser extremamente dura. Em minha pesquisa descobri que no passado essas sementinhas já foram muito utilizadas por religiosos na confecção de rosários e terços.

Frutos colhidos do cinamomo  (Melia azedarach)

Frutos colhidos do cinamomo, dentro de um balde

Colhi uma boa quantidade de frutos e como eles são bem moles consegui despolpá-los com certa facilidade esfregando contra uma peneira grossa, lavando com bastante água e por último retirando manualmente as cascas. Depois de secos os "balõezinhos" ficam com a cor esbranquiçada e textura aveludada, com a vantagem de já serem naturalmente furados.

sementes despolpadas do cinamomo, secando em peneira
Os "balõezinhos" já são furados


Mais informações sobre cinamomo:
http://www.notisul.com.br/n/colunas/cinamomo_elegante_porem_toxica-22670
http://flores.culturamix.com/informacoes/cinamomo
http://www.sementescaicara.com/ImagensDiversas/file/cinamomo.pdf





Descubra curiosidades surpreendentes sobre a vida e a utilidade das sementes empregadas no GeoAtelier


11 de junho de 2015

Feijão-de-porco é adubo verde

 Canavalia ensiformis

flor vermelha do feijão-de-porco com borboleta marrom

Outra semente que me chegou de maneira inteiramente casual, se é que isso existe. Tenho uma visinha que também adora plantas, animais e assuntos do mato e da roça, a dona Eva.
Certa vez, enquanto limpava o mato de minhas plantas, dona Eva aproximou-se da cerca de arame e apontou-me um pequeno arbusto que crescia a poucos metros de onde eu estava :
-Isso aí é um feijão que meu marido trouxe lá de minas. Os nossos morreram todos e tô vendo esse aí nascendo do seu lado, foi alguma semente que joguei fora, não deixa ele morrer não !

pé de feijão-de-porco com flor e favas verdes
A plantinha que d. Eva me mostrou, um mê depois...

pé de feijão-de-porco com favas verdes

Aquela insólita indicação foi o suficiente para eu  cercar de cuidados a tal plantinha, que já contava com meia dúzia de flores vermelhas, cheio de curiosidade para ver afinal, que feijão era aquele. Logo as florzinhas tornaram-se em 3 pequeninas vagens e estas por sua vez, cresceram e em poucos dias atingiram quase 30 centímetros  de comprimento! Pensei que uma vagem tão grande só poderia conter uns grãos igualmente grandalhões e quem sabe, me serviriam...

mão segurando fava verde de feijão-de-porco

pé de feijão-de-porco com favas amadurecendo

Depois esperei que começassem a amarelar e então destaquei-as do pé já quase morto, e coloquei para terminar a secagem em um lugar protegido e quente, próximo ao telhado. Depois de algumas semanas, quando achei que já dava pra abrir as vagens, fiquei deveras surpreso com o grande tamanho daqueles feijões, coisa de mais de 2 centímetros, com sua cor inteiramente branca e de uma dureza singular, quesitos mais que suficientes para o artesanato.

sementes brancas de feijão-de-porco (Canavalia ensiformes)

Guardei os preciosos feijões pois estava disposto a experimentá-lo nas criação do atelier. Então na estação de chuvas seguinte selecionei os grãos mais bonitos e uniformes que aquele pezinho me deu, preparei um canteiro e plantei umas doze sementes. Cerca de cinco meses depois  estava colhendo umas quarenta vagens e daí então dispondo de sementes suficientes para meus testes.

Canteiro com pés  de feijão-de-porco (Canavalia ensiformes)
O canteiro com cerca de doze pés, cheios de vagens.

Canteiro com pés  de feijão-de-porco amadurecendo
Vagens quase maduras...
favas colhidas  de feijão-de-porco (Canavalia ensiformes)
A pequena grande colheita
Nesse meio tempo com algumas pesquisas acabei descobrindo que o dito cujo não era ninguém mais, ninguém menos que o feijão-de-porco (Canavalia ensiformis), de quem eu já ouvira falar bastante. Como a maioria das plantas da família Fabaceae, ela também fixa nitrogênio no solo e é igualmente bastante utilizada para adubação verde e recuperação de solos empobrecidos, como no caso da mucuna-preta, outra semente a que dediquei um post.

favas colhidas  de feijão-de-porco (Canavalia ensiformes)

favas e sementes  de feijão-de-porco

O feijão-de-porco (Canavalia ensiformis) é originário das Américas e por aqui adquiriu este nome por motivos óbvios, pois a muito tempo é cultivado e utilizado em fazendas para a alimentação dos suínos. Trata-se de uma planta rústica e que desenvolve-se bem até em solos pobres, secos e ácidos e ainda dispensando grandes tratos culturais, sempre foi eleita entre as principais opções para nutrir e engordar os porcos. Cerca de 40% do seu peso seco consiste de carboidratos, proteínas e óleos. É bastante resistente ao ataque de pragas, sendo essa rusticidade boa razão pra sua escolha. 
Já na alimentação humana, não pode ser empregado sem antes passar por algum tratamento para neutralizar certas substâncias um tanto tóxicas para nós, algumas inibidoras nutricionais e outras até utilizadas como inseticidas. Recentemente foi descoberta nesse feijão uma substância muito semelhante a insulina. Entretanto sua grande quantidade de folhas permite que sejam consumidas diretamente como refolgado. Quem já provou afirma ser ótima!

Então, entreguei os feijões de algumas vagens pra dona Eva, pra ela tê-los de volta e por aqui, novas sementes na mão, vamos aos testes e criações GeoAtelier:

favas e sementes  de feijão-de-porco

flor vermelha  de feijão-de-porco (Canavalia ensiformes)




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4 de junho de 2015

Vídeo: limpeza e tratamento da bucha-vegetal

Algum vizinho lançou sementes de bucha-vegetal próximo a uma cerca de divisa. O danado do pé alastrou-se e de repente rendí-me á beleza de seus frutos, muitas buchas dependuradas

Dado que o pé começou a secar e ninguém se habilitou a colhê-las...ha,ha,ha! É uma outra espécie de bucha com no máximo 30 cm. de comprimento, diferente das buchas-de-metro que já cultivo. Pouca gente sabe como tratar delas depois de colhidas, para que fiquem bem macias e clarinhas, prontinhas pra o banho e essas informações são ainda bastante escassas. Como tive de tratar das 36 buchas então decidi registrar isso em vídeo, dei uma caprichada na edição e tá aí o resultado de uma excelente dica, o "pulo do gato" em se tratando de  limpeza e amaciamento das buchas-vegetais, confira:
































31 de maio de 2015

Vendendo sementes para artesanato e plantio.

Em decorrência da crescente descoberta de pontos de coleta bem como a pedido de  leitores, a partir de agora disponho para venda de parte das sementes que coleto e utilizo no atelier. São sementes em duas versões: uma com sementes vivas, que tanto servirão para o plantio bem como o artesanato, e outra servindo para os artesãos ou pra você que gosta de montar sua própria jóia orgânica: além de furadas podem ainda ser tratadas com substâncias selantes e antialérgicas, que além de impermeabilizá-las contra a umidade, garantem também um uso seguro.


O tamanho de cada semente representada abaixo é um tamanho aproximado, havendo naturalmente pequenas variações entre elas. Seus valores são expressos em real brasileiro e  as despesas com o frete é por conta do comprador. 
Solicite pelo FORMULÁRIO de CONTATO







brejaúva  côco-de-iri, airi
Astrocaryum  aculeatíssimum

para plantio                      unidade    0,70

para artesanato (polida)    unidade   1,20













acácia-rosa  canafístula, marizeiro, mata-pasto
Cássia grandis
   p/ plantio      50 unidades  15,00 
   p/ artesanato  
   com 1 furo    50 unidades  20,00
   com 2 furos  50 unidades   25,00 







cinamomo     santa-bárbara, amargoseira
Melia azedarach

80 unidades       12,00










chapéu-de-napoleão aguaí, coração-de-jesus
Thevetia peruviana 
para plantio   10 un.   9,00   100un. 45,00
para artesanato                      20 un. 25,00


                              







flamboyant   acácia-rubra,    ponciana-real
Delonix regia
para plantio         100 un. 12,00
para artesanato
com um furo        100 un. 16,00
com dois furos     100 un. 20,00


guapuruvú   ficheira,  paricá,  pau-de-canoa
Schizolobium paraiba
para plantio         100 un. 23,00

para artesanato
com um furo        100 un. 30,00
com dois furos     100 un. 36,00



jerivá    coquinho-de-cachorro,  baba-de-boi
Syagrus romanzoffiana

        20 unidades       16,00
                                                                                                                       
mucuna-preta     pica-pica, velvet-bean, bengal bean   
Stizolobium aterrimum

     para plantio      100 un.    18,00              
     para  artesanato
     com um furo      50 un.    13,00
     com dois furos   50 un.    18,00                                                                                                

mulungú vermelha,  corticeira, sinanduva 
Erythrina flabelliformis 
     para plantio     50 un.     16,00                
     para  artesanato
     com um furo      50 un.    22,00
     com dois furos   50 un.    26,00



                                                                                      
mulungú marrom,   corticeira, suinã, canivete
 Erythrina speciosa
para plantio    50 un.   16,00
            para artesanato
            com um furo     50 un. 22,00
            com dois furos  50 un. 26,00


                                     olho-de-boi  coronha, pó-de-mico, queima-queima
                                     Mucuna urens
                                     olho-de-boi           para plantio       10 un.   12,00
                                                                   para artesanato
                                                                   com um furo       20 un.  30,00
                                                                   com dois furos    20 un.  36,00


                             rosário lágrima-de-nossa-senhora, trigo-de-israel
                                     Coix lacrima
                                     rosário              para plantio                              100 un.    8,00
                                                              para artesanato 
                                                              (com furo limpo e alargado)    100 un.  15,00
                                                                                                               500 un.   35,00


                              saboneteira   saponária,   sabão-de-soldado
                                      Sapindus saponaria
                                     saboneteira           para plantio         20 un.   8,00
                                                                   para artesanato
                                                                   com um furo     100 un.  32,00
                                                                   

                             tento-carolina  falso-pau-brasil, coral-de-madeira  
                                     Adenanthera pavonina
                                     tento-carolina
                                                             para plantio          100 un.   15,00
                                                             para artesanato
                                                             com um furo        150 un.    28,00
 

                             timbaúva  tamboril, timburí, orelha-de-macaco  
                                     Enterolobium contostisiliquum
                                     timbaúva               para plantio        100 un. 18,00
                                                                   para artesanato
                                                                   com um furo        50 un. 16,00
                                                                   com dois furos     50 un. 23,00  





22 de maio de 2015

Acácia Rosa, a gigante exuberante e farmácia das florestas.

As famosas acácias pertencem a um lindo  e um grande grupo de plantas com enorme apelo ornamental, espalhadas pelo hemisfério sul e com cerca de 1380 espécies. Nas américas ocorrem apenas 15 espécies das quais 10 estão no Brasil.    A acácia-rosa  é nativa da América do sul e América central, a maior espécie brasileira de acácia e possivelmente a árvore que deu o primeiro nome a cidade de Resende-RJ, quando a região foi habitada pelos extintos índios Puris, que a chamavam de Timburibá. Então para conhecer-mos melhor essa grande majestade com flores em  cachos roseados, vamos começar praticando um pouquinho de taxonomia dos vegetais!


Cássia grandis

Uma  árvore descidua e heliófila, de tronco tortuoso e fissurado, folhas compostas e paripinadas por folíolos oblongos e pilosos. As flores são axilares tipo rácemo e os frutos, cilindricos, lenhosos e indeiscentes, e cerca de 50 sementes obovóides, com excisão no hilo. 

Entendeu tudinho, né?... he,he,he. Então, a partir desse texto de palavras sofisticadas, vamos as explicações. Primeiro é bom saber que taxonomia vegetal é o ramo da botânica que se ocupa de classificar todas as plantas, para  que possamos compreendê-las individualmente.

Árvores descíduas (do latim DECIDUUS, "o que cai" ) são aquelas que perdem e deixam cair todas as folhas durante o inverno ou estação seca.  Heliófila (do grego HELIUS, "sol" + FILO, "raça ou tribo") é a planta que precisa de plena luz solar para conseguir então desenvolver-se.

Casca do tronco e folha de cássia-rosa


Tronco tortuoso e fissurado é um tronco que além de torto apresenta algumas fendas, gretas e rachaduras em sua casca. Folha composta e paripinada, ao contrário de uma folha simples, é uma folha formada por folíolos (de 8 a 20 pequenas folhas) parecidos com uma pena e terminando sempre aos pares, oblongos  ( elípticos ou ovais )  e pilosos  ( com muitos pelos ).
Flores axilares tipo rácemos, brotam junto e ao lado de onde a folha brota do galho ( uma espécie de axila ou sovaco da planta ),   em forma de cachos  de bela cor róseo-amarelados.





Frutos cilíndricos (em forma de cilindro), lenhosos (com a casca e interior duros como lenha ou madeira) e indeiscentes (que não se abrem depois de maduros, não soltam as sementes), medindo de 11 a 60 centímetros de comprimento.  Cerca de 50 sementes obovóides (formato ovalado com uma das extremidades afuniladas) com excisão (corte ou amputação) no hilo (marca ou cicatriz que indica onde a semente estava ligada na planta)...    Viram só? Foram necessárias 16 linhas para explicar o que a taxonomia descreveu em apenas 3 linhas e isso porque a explicação foi bem resumida. Está aí a grande importância dessa ciência.


Os nomes populares das acácias se confundem entre sí, tamanha a quantidade de espécies nativas e exóticas. A acácia-rosa também é conhecida por cássia-grande, canafístula, marimari-grande, marimari-sarro, marimarirana, marizeiro, jeneúna, mata-pasto, fedegoso e mais outros. No Brasil, é a maior espécie do gênero Cássia e ocorre nas terras firmes da amazônia e região sudeste. Normalmente seu tamanho é entre 10 e 20 metros, mas também pode chegar aos 30 m. de altura.

Em frente a igreja do Rosário

Aqui em Resende-RJ, que antes da colonização era um território  habitado pelos indios Puris, conta uma lenda dessa nação que eles se reuniam sempre embaixo de uma árvore que chamavam de timburibá. A lenda do timburibá foi transcrita por dr. João de Azevedo Carneiro Alves e publicada em 1883. Pela descrição que faz das vagens especialmente (e, no tempo da infloração, aquelas bainhas verde-negras de forma cilíndrica, presas por um fio longo e delgado, e a caírem como lágrimas, ou pingentes de um candelabro gigante perdido nas amplidões do espaço) essa árvore é uma  acássia-rosa ou uma acácia-amarela (Cássia leptóphilla), ambas nativas na região. Timburibá é tido como o primeiro nome de Resende e virou nome de rua. A árvore existiu de verdade e sua morte e queda deu-se na década de 1870, segundo indicações do dr Ezequiel Freire (1850 - 1891) em sua prosa "A morte do Tymburibá". No local onde vivia o timburibá foi erguido um cruzeiro em 1901, época em que a vila N. S. da Conceiçao Campo Alegre da Paraíba Nova passou a chamar-se Resende




"...como lágrimas, ou pingentes de um candelabro..."

A acácia-rosa como grande parte das acáceas, também é muito procurada para a arborização urbana por causa da sua rusticidade e da beleza romântica dos cachos floridos. Em Recife-PE está entre as 10 espécies mais usadas no paisagismo. Porém devido a seu grande porte deve ser plantada em praças e parques, evitando locais pequenos como quintais e jardins. Suas raízes podem danificar tubulações, instalações  hidráulicas e estruturas subterrâneas.

O tronco tortuoso pode atingir até 1 metro de diâmetro
Possue flores muito melíferas que atraem um grande número de pássaros e insetos. Curioso também é que suas vagens ou frutos tem uma aparência pouco atraente e digamos que um bocado grotesca. Porém atraem pelo odor a um grande número de animais, insetos, aves, e incluisive os seres humanos. Quando essas vagens caem de maduras, viram fonte de energia e sais minerais para porcos selvagens, cutias, pacas, antas e até mesmo o gado. Os macacos as recolhem ainda nos galhos e nós, humanos, observando esses animais e também experimentando, logo aprendemos o bom valor dessas vagens e também do resto da planta.


Descobrí esta semente e me acheguei nessa espécie na base do puro senso especulativo. Foi numa certa tarde de inverno em 2013, quando pedalava na beira-rio, pela avenida Pres. Kenedy.  O visual previlegiado do calçamento só é confrontado quando se passa diante de uma das saídas de esgoto para o rio. Ali sempre prendo a respiração. Seguia rumo a um ponto de coleta de uma outra espécie, quando mais uma vez aquelas vagens enormes e marrons chamaram minha atenção. A intrigante árvore devia ter a altura de pouco mais de 10 metros  e se encontrava a cerca de tres metros do rio Paraíba do Sul. Obviamente fora plantada ali entre o rio e a calçada com fins ornamentais, juntamente com muitas outras espécies que margeiam esse trecho do rio paraíba. Os esportistas são os grandes frequentadores desses embelezados quilômetros de calçada entre o rio e a avenida. São homens e mulheres de diferentes idades que vão e vem, correndo ofegantes ou caminhando obstinados e devidamente trajados, óculos, boné, fones de ouvido e por vezes em grupo, a sós ou acompanhados de seus cães.



Desta vez decidí dar uma paradinha pra conferir de perto que tipo de sementes aquelas vagens com formato de linguiça poderiam conter. Haviam várias caídas no gramado e logo tratei de apanhar uma, trazendo-a pra calçada. Me sentei ao meio fio no intento de quebrar aquele fruto comprido e lenhoso golpeando-o contra o concreto e após duas ou tres pancadas esfacelou-se, deixando o seu interior á mostra. Nunca vira uma vagem como aquela! Em todo o comprimento daquela "linguiça" haviam pequenas câmaras, uma seguindo a outra, mais ou menos a cada dois centímetros e separadas por uma membrana lenhosa. E dentro de cada uma dessas câmeras logo avistei o que procurava, uma semente oval e achatada com pouco mais de um centímetro de tamanho. Porém, apesar do aspecto seco da vagem a semente encontrava-se dentro de um líquido viscoso e pastoso, de cor marrom mais escuro do que sua casca. Um cheiro forte, adocicado  e conhecido, porém distante e perdido em algum lugar de minha memória, exalava do interior da estranha vagem. Então introduzí e lambuzei meu indicador em uma das câmeras para extrair uma daquelas sementes grandes, bonitas e de cor ocre. Apertei a semente com as unhas e logo constatei alegremente, tratar-se de material muito duro, condição imprescindível para uso no atelier. Depois aproximei-a nos dedos lambuzados daquele "mel" marrom, até bem perto do nariz e ao cheirá-los profunda e vagarosamente, uma súbita lembrança logo rompeu-me a mente: uma memória dos tempos de infância, minha mãe colocando em minha boca uma colher com um xarope de sulfato ferroso, para prevenir a anemia! Lembrei-me até do gosto forte e esse cheiro que eu sentia agora era o mesmíssimo daquela lembrança tão clara (que parecia ter acontecido ontem). A súbita memória encorajou-me a provar uma pequena porção do líquido na ponta da língua, e o seu sabor só reforçou aquela lembrança. Obviamente desconhecendo suas propriedades tratei de cuspir algumas vezes e logo fui recolher as muitas outras vagens caídas e espalhadas pela grama. Demorei mais de um ano para descobrir que se tratava de uma acássia-rosa e que aquele líquido viscoso e adocicado era não só comestível mas altamente energético, medicinal e riquíssimo em ferro, he,he!


Na região amazônica alguns povos da mata a trituram e fervem com água. Depois de coada obtem-se uma bebida marrom escura e nutritiva, com alto teor de ferro e açúcares. Na América central, de onde a acácia-rosa também é nativa, populações rurais de Honduras, Costa rica e El Salvador a chamam de "carao" e mantém uma tradição passada através de muitas gerações: fazem o "extrato Carao", que misturado ao leite ou puro serve de repositor energético para trabalhadores do campo e crianças desnutridas. Também na Nicarágua produzem um fermentado de nome "vinho Carao".

CARAO

O uso medicinal popular (muitos com comprovação científica) de partes dessa planta é bastante amplo, tornando-a uma verdadeira "farmácia viva": da raiz se extrai um antisséptico para feridas, bem como um tônico e febrífugo. A decocção de folhas, vagens e casca serve por via oral para tratamento de anemia, doenças hepáticas, gripe, tosse, infecção urinária e histeria. As folhas e frutos tem propriedades anti-sépticas, anti-anêmica, expectorante, mineralizante, tônica, sedativa, purgativa, diurética, adstringente e febrífuga. A pomada tópica das folhas é usada no tratamento de cortes, arranhões, feridas, micoses, vitiligo e herpes.



As bonitas são mesmo duríssimas e a variação dos tons ocre então... gamei. 
Ganhei outra aliada.


Chamando a atenção na Av. Marcílio Dias, ao lado do quartel de bombeiros


Soberana em frente a igreja do Rosário



Cássia rosa na Casa da Cultura Macedo Miranda
Outra na Casa da Cultura Macedo Miranda







Endereços que recomendo:
http://www.biologados.com.br/botanica/taxonomia_vegetal/taxonomia_vegetal.htm
http://ainfo.cnptia.embrapa.br/digital/bitstream/CNPF-2009-09/44064/1/circ-tec151.pdf
http://ainfo.cnptia.embrapa.br/digital/bitstream/CNPF-2009-09/40890/1/circ-tec117.pdf
http://ler.letras.up.pt/uploads/ficheiros/9960.pdf
http://fernandolemos2.blogspot.com.br/search/label/A%20busca%20continua%3A%20Timburib%C3%A1
http://www2.camara.leg.br/responsabilidade-social/ecocamara/noticias/noticias-subpaginas/cassia
https://sobasombradasarvores.wordpress.com/arvores-exoticas/chorao-salix-alba/
http://es.wikipedia.org/wiki/Cassia_grandis



Descubra curiosidades surpreendentes sobre a vida e a utilidade das sementes empregadas no GeoAtelier