Coleta e Cultivo

Quando encontro essas jóias artísticas naturais, elas me mandam fazer outras artes...

SEMENTES NO CHÃO DA CIDADE 



Em 2007, enquanto passeava por uma travessa em Campos Elíseos, encontrei umas sementinhas vermelhas e chamativas próximas ao meio fio e logo as apanhei! Me mudara pra Resende a poucos meses. Agora estou cada vez mais impressionado com a quantidade e variedade de sementes com que me deparo espalhadas por ruas, praças, becos e avenidas desta cidade onde vim morar.   Desde aquele ano, só em seus limites urbanos encontrei 12 espécies em grandes quantidades ( guapuruvú, saboneteira, flamboyant, tento-carolina, jerivá, rosário, mucuna preta, chapéu-de-napoleão, jerivá, cinamomo, cássia-rosa e mulungú). Estando em área urbana, geralmente são varridas pelo pessoal da prefeitura e descartadas em lixões e aterros. Mas  agora, ao menos uma parte achou outro destino, pois as estou encontrando, he,he,he.

Varrendo á beira do rio Paraíba do Sul -Resende RJ

Creio que este quadro deva se repetir em muitas outras cidades, por esse mundo afora passando bem despercebido pela maioria das pessoas que gostam de manufaturar. Por isso me animei a postar essa grande descoberta, divulgando uma opção de produção a partir dessas belíssimas jóias naturais, que  por sí mesmas já são verdadeiras e expontâneas obras de arte. 

Entre a coleta da semente e a peça finalizada, existem diversas etapas, que passam pela limpeza e desinfecção, polimento, furação, selamento, resinagem e algumas outras etapas que garantirão um contato seguro com a pele humana. 

A produção de artesanato a partir de sementes requer um baixo investimento em infraestrutura, sendo possível iniciar a produção de algumas peças com apenas uma agulha de costura comum, como é o caso do "terço com sementes de rosário".

Estaremos  discutindo essas e outras técnicas, afim de contribuir para despertar o interesse de outras pessoas que também queiram aproveitar esse  bom material que a natureza nos dá.

A coleta é um dos momentos que mais gosto nesse trabalho. Tem algo de primitivo e ancestral, certamente um resíduo de lembranças dos tantos milhares de anos que passamos coletando e caçando, antes das civilizações . A quantidade de sementes é considerável e uma coleta anual em pontos determinados,  pode abastecer a mim e a muitos outros artistas, artesãos e "arteiros". Se fosse o caso de coletar todas as sementes disponíveis nesses vários pontos, teria de começar a comercializá-las também. Quem sabe então, talvez isso termine por acontecer...

SEMENTES NO CHÃO DA FLORESTA

Estamos situados na APA (área de proteção ambiental) Mantiqueira e pertinho do primeiro parque nacional brasileiro, o Parque Nacional do Itatiaia e também do recente Parque Estadual da Pedra Selada criado em 2012. Estamos entre a serra da mantiqueira e a serra do mar, então qualquer incursão mais pra perto dessas serras e logo encontramos  mata atlântica. Algumas sementes mais específicas e bem mais especiais vem desses territórios sagrados.

Maçiço rochoso do Itatiaia visto do bairro Montese

Serra da Mantiqueira

A coleta de sementes em ambiente de mata passa por critérios bem diferentes daquelas coletadas no perímetro urbano. Na mata existe todo um contexto de relações acontecendo entre as espécies. A semente caída ao chão será aproveitada por uma série de criaturas, normalmente como alimento de animais, plantas, fungos ou bactérias, que com certeza dependem dela para se alimentarem e neste ambiente, todos são igualmente importantes.

O coletor deve levar em consideração as peculiaridades de cada espécie, com que frequência  ela ocorre e qual a produção anual de cada planta. Costumo estipular a quantidade máxima de sementes que recolho em ambiente de mata, em cerca de 30% do que cada planta pode produzir. Temos nesta região as palmeiras jerivá, brejaúva e tucúm, o çipó olho-de-boi entre algumas outras que acho por bem nem mencioná-las. Outro cuidado é que quase nunca divulgo o mapa destes "tesouros", resguardando-os de provável predação humana.

Palmeira brejaúva  ( Astrocarium aculeatissimum )

Ôlho-de-boi / mucunã / feijão-do-mar       (Mucuna urens)

SEMENTES CULTIVADAS

A fim de aumentar quantidade e variedade, o cultivo de algumas plantas de ciclo anual pode ajudar bastante. Numa área com pouco mais de 1000 m2 cultivamos algumas espécies de ciclo anual: o capim rosário (Coix lacrima), a fava rajada (Phaseolus lunatos) nas variedades preta e vermelha, mucuna preta (Stizolobium aterrimum),   feijão de porco (Canavalia einsiformes),  bucha ou esponja vegetal (Lufta cyllindrica e Lufta aegyptiaca)  e variadas formas e tamanhos de cabaças (lagenária vulgaris).

Cabaça ou porongo  (Lagenária vulgaris)

Cabaça-pinguim

Bucha  (Lufta cyllindrica)

Mucuna-preta na cerca

Mucuna-preta (Stizolobium aterrimum)

 feijão de porco (Canavalia einsiformes)

Capim rosário (Coix lacrima)

Mudas de fava rajada  (Phaseolus lunatus)

Sementes de fava rajada  (Phaseolus lunatus)

Em suma, só trabalho com as sementes e material que obtenho nos limites do município onde resido, e essa é a marca  e exemplo que até o momento, gosto de conservar!