Quem

      Que felicidade,  foi minha infância em um sítio, no interior da Bahia. Ter começado a vida morando perto do mato e da praia, considero o maior presente que a vida me deu. Porém só fui descobrír isso na minha adolescência, quando o meu  pai trouxe toda a família pra morar próxima ao centro de São Paulo... Nunca me conformei com tanto cinza, tanto concreto, barulho, asfalto, tanta gente com tamanha solidão! Hoje, ao recapitular aqueles tempos da pós-adolescência morando em vila Maria, percebo que passei quase 18 anos armando a minha “fuga” e conspirando pra encontrar uma maneira de me libertar, de escapulir de vez do massacre que sentia, dentro daquela metrópole que via gigante, impessoal e impiedosa.

De fato a natureza  e o mundo dos seres vivos me fascinam ao extremo e sempre fiz  de tudo para me aproximar do contato com qualquer bicho esquisito. Nem menciono os

Abelhas na mão - aula prática no curso de apicultura-1986
animais que já criei pois teria de adentrar num território um tanto bizarro (he, he). Meu sonho delirante era tornar-me um fotógrafo da National Geográfic e poder viajar para aqueles lugares fantásticos apresentados pela revista. Naqueles tempos não tinha internet e o acesso as informações era muito  caro. Volta e meia recorria a maravilhosa biblioteca municipal Mario de Andrade em busca de conhecimento. Pelo caminho, não deixava por menos pois percorria alguns sebos procurando por números antigos de minha revista Nat.Geo. Afinal comprava quatro ou mais exemplares pelo preço que pagaria em uma só, na banca de jornais.  Daí passava dias impressionantes, mergulhado naquelas páginas aventureiras, repletas de belezas geográficas...

Meu pai iniciou-me  no mundo da fotografia. Foi essa a sua última profissão, entre as muitas que teve. Por volta dos anos 80 trabalhava-mos com as populares câmeras Pentax, Yashica e Olimpus, maravilhosas jóias mecânicas.
Com essa Yashica reflex que agora a sobrinha Íris segura, 
meu pai fotografou muitos casamentos e batizados.
Fazíamos reportagens de casamentos, batizados, aniversários e muita foto  3x4 pra documentos. Montei para o meu pai um mini laboratório de revelação em cores, um  invejável avanço tecnológico para a época. Mas a ousadia me custou caro pois resultou que passava vários dias da semana enfiado naquele "bendito" quarto escuro, lamentando e revelando muitas e muitas fotografias, sem quase ver a luz do dia. 
Então aventurei-me na publicidade me associando a um estúdio com mais dois caras e alugamos uma sala ao lado do viaduto do Chá. Tive nessa época o prazer de possuir a câmera que era a cobiça de todo fotógrafo, a alemã Hasselblad, uma câmera mítica, eleita para equipar o projeto Apolo e viajar até a lua. Comprei uma usada em 12 prestações suadas, mas me diverti muito fotografando peças e catálogos. Quando eu ia fotografar algum casamento com a poderosa dependurada no pescoço, ela chamava muita atenção entre os fotógrafos fazendo-me sentir vaidoso e invunerável (ha,ha,ha) perante a concorrência.

Mas a agitação de São Paulo  não dava mais e quando deixei a convivência familiar corri para morar em algum lugar onde pudesse reencontrar toda aquela vida próxima da natureza, como fora minha infância. Em 1989 fui para as montanhas de Visconde de Mauá, ao sul do Rio de Janeiro, um lugar cheio de exuberâncias naturais e cachoeiras mil, onde permaneci por 16 anos. Pude então experimentar e colocar em prática toda aquela inquietação que me acompanha, herança paterna ou não. Saltei com a maior facilidade de uma profissão para outra, normalmente sem qualquer vínculo entre si. 
Contemplando no tôpo da pedra-selada / Visconde de Mauá -RJ/1993
 Naqueles anos decifrei e desempenhei satisfatóriamente os ofícios de: apicultor, cunicultor, horticultor, artesão, cozinheiro, garçon, desenhista, letrista, pintor, entalhador, produtor de (pequenos) eventos, radialista, cantor, compositor, técnico em áudio PA, técnico em gravação e edição de áudio, videomaker e webdesign.

Inaugurei outra era  em minha vida quando uma parte de minha família resolveu abandonar São Paulo e vir morar comigo. Em pouco tempo percebemos que V. Mauá era radicalmente diferente e imprópria para eles, o que tornou-se também para mim.
Foi em Resende, esta cidade ao Sul do estado do Rio de Janeiro com pouco mais de cem mil habitantes e de localização estratégica, nem metrópole, nem vilarejo, onde encontrei o meu “caminho do meio”.


No atelier  agreguei um bocado do conhecimento adquirido e  encontro hoje um imenso campo pra exercer toda a criatividade que persigo (ou que me persegue) Agora, o restante da história vai sendo descrita a partir desta cidade cercada de belezas geográficas, onde transitam os mineiros, paulistas e cariocas, a meio caminho do mar e a meio caminho das montanhas, entre a Serra do Mar e a Serra da Mantiqueira, cercada por parques e unidades de conservação. É de onde faço as criações e publicações do meu querido GeoAtelier...

Não posso deixar de mencionar que é aqui em Resende onde são fabricadas as pastilhas de urânio beneficiado, para as usinas atômicas de angra ( he, he, he )!

                                                                                             AMARANTE TRINDADE














Vejo um poderoso sol poente 
perfurando nuvens escuras e sombrias!
Elas insistem em abarcar e abafar 
as gloriosas escarpas do pico das Agulhas Negras
Em minha frente uma perspectiva estrada 
vai ladeando as águas tranquilas do Paraíba do Sul 
Agora já não importa se a estrada me leva ou me traz
já não importa se estou indo ou voltando...
 pois só me importa que estou.
Deslizo num estimulante cenário
Palco de água, de fogo, de luz e sombra
Maravilhosos reflexos de tudo aquilo que sou
( maio.2007 )