As famosas acácias pertencem a um lindo e um grande grupo de plantas com enorme apelo
ornamental, espalhadas pelo hemisfério sul e com cerca de 1380 espécies. Nas américas ocorrem apenas 15 espécies das quais 10 estão no Brasil. A acácia-rosa é nativa da América do sul e América central, a maior espécie brasileira de acácia e possivelmente a árvore que deu o primeiro nome a cidade de Resende-RJ, quando a região foi habitada pelos extintos índios Puris, que a chamavam de Timburibá. Então para conhecer-mos melhor essa grande majestade com flores em cachos roseados, vamos começar praticando um pouquinho de taxonomia dos vegetais!
Cássia grandis
Uma árvore descidua e heliófila, de tronco tortuoso e fissurado, folhas compostas e paripinadas por folíolos oblongos e pilosos. As flores são axilares tipo rácemo e os frutos, cilindricos, lenhosos e indeiscentes, e cerca de 50 sementes obovóides, com excisão no hilo.
Entendeu tudinho, né?... he,he,he. Então, a partir desse texto de palavras sofisticadas, vamos as explicações. Primeiro é bom saber que taxonomia vegetal é o ramo da botânica que se ocupa de classificar todas as plantas, para que possamos compreendê-las individualmente.
Árvores descíduas (do latim DECIDUUS, "o que cai" ) são aquelas que perdem e deixam cair todas as folhas durante o inverno ou estação seca. Heliófila (do grego HELIUS, "sol" + FILO, "raça ou tribo") é a planta que precisa de plena luz solar para conseguir então desenvolver-se.
Tronco tortuoso e fissurado é um tronco que além de torto apresenta algumas fendas, gretas e rachaduras em sua casca. Folha composta e paripinada, ao contrário de uma folha simples, é uma folha formada por folíolos (de 8 a 20 pequenas folhas) parecidos com uma pena e terminando sempre aos pares, oblongos ( elípticos ou ovais ) e pilosos ( com muitos pelos ).
Flores axilares tipo rácemos, brotam junto e ao lado de onde a folha brota do galho ( uma espécie de axila ou sovaco da planta ), em forma de cachos de bela cor róseo-amarelados.
Frutos cilíndricos (em forma de cilindro), lenhosos (com a casca e interior duros como lenha ou madeira) e indeiscentes (que não se abrem depois de maduros, não soltam as sementes), medindo de 11 a 60 centímetros de comprimento. Cerca de 50 sementes obovóides (formato ovalado com uma das extremidades afuniladas) com excisão (corte ou amputação) no hilo (marca ou cicatriz que indica onde a semente estava ligada na planta)... Viram só? Foram necessárias 16 linhas para explicar o que a taxonomia descreveu em apenas 3 linhas e isso porque a explicação foi bem resumida. Está aí a grande importância dessa ciência.
Os nomes populares das acácias se confundem entre sí, tamanha a quantidade de espécies nativas e exóticas. A acácia-rosa também é conhecida por cássia-grande, canafístula, marimari-grande, marimari-sarro, marimarirana, marizeiro, jeneúna, mata-pasto, fedegoso e mais outros. No Brasil, é a maior espécie do gênero Cássia e ocorre nas terras firmes da amazônia e região sudeste. Normalmente seu tamanho é entre 10 e 20 metros, mas também pode chegar aos 30 m. de altura.
Aqui em Resende-RJ, que antes da colonização era um território habitado pelos indios Puris, conta uma lenda dessa nação que eles se reuniam sempre embaixo de uma árvore que chamavam de timburibá. A lenda do timburibá foi transcrita por dr. João de Azevedo Carneiro Alves e publicada em 1883. Pela descrição que faz das vagens especialmente (e, no tempo da infloração, aquelas bainhas verde-negras de forma cilíndrica, presas por um fio longo e delgado, e a caírem como lágrimas, ou pingentes de um candelabro gigante perdido nas amplidões do espaço) essa árvore é uma acássia-rosa ou uma acácia-amarela (Cássia leptóphilla), ambas nativas na região. Timburibá é tido como o primeiro nome de Resende e virou nome de rua. A árvore existiu de verdade e sua morte e queda deu-se na década de 1870, segundo indicações do dr Ezequiel Freire (1850 - 1891) em sua prosa "A morte do Tymburibá". No local onde vivia o timburibá foi erguido um cruzeiro em 1901, época em que a vila N. S. da Conceiçao Campo Alegre da Paraíba Nova passou a chamar-se Resende
A acácia-rosa como grande parte das acáceas, também é muito procurada para a arborização urbana por causa da sua rusticidade e da beleza romântica dos cachos floridos. Em Recife-PE está entre as 10 espécies mais usadas no paisagismo. Porém devido a seu grande porte deve ser plantada em praças e parques, evitando locais pequenos como quintais e jardins. Suas raízes podem danificar tubulações, instalações hidráulicas e estruturas subterrâneas.
Em frente a igreja do Rosário |
"...como lágrimas, ou pingentes de um candelabro..." |
Possue flores muito melíferas que atraem um grande número de pássaros e insetos. Curioso também é que suas vagens ou frutos tem uma aparência pouco atraente e digamos que um bocado grotesca. Porém atraem pelo odor a um grande número de animais, insetos, aves, e incluisive os seres humanos. Quando essas vagens caem de maduras, viram fonte de energia e sais minerais para porcos selvagens, cutias, pacas, antas e até mesmo o gado. Os macacos as recolhem ainda nos galhos e nós, humanos, observando esses animais e também experimentando, logo aprendemos o bom valor dessas vagens e também do resto da planta.
Descobrí esta semente e me acheguei nessa espécie na base do puro senso especulativo. Foi numa certa tarde de inverno em 2013, quando pedalava na beira-rio, pela avenida Pres. Kenedy. O visual previlegiado do calçamento só é confrontado quando se passa diante de uma das saídas de esgoto para o rio. Ali sempre prendo a respiração. Seguia rumo a um ponto de coleta de uma outra espécie, quando mais uma vez aquelas vagens enormes e marrons chamaram minha atenção. A intrigante árvore devia ter a altura de pouco mais de 10 metros e se encontrava a cerca de tres metros do rio Paraíba do Sul. Obviamente fora plantada ali entre o rio e a calçada com fins ornamentais, juntamente com muitas outras espécies que margeiam esse trecho do rio paraíba. Os esportistas são os grandes frequentadores desses embelezados quilômetros de calçada entre o rio e a avenida. São homens e mulheres de diferentes idades que vão e vem, correndo ofegantes ou caminhando obstinados e devidamente trajados, óculos, boné, fones de ouvido e por vezes em grupo, a sós ou acompanhados de seus cães.
Desta vez decidí dar uma paradinha pra conferir de perto que tipo de sementes aquelas vagens com formato de linguiça poderiam conter. Haviam várias caídas no gramado e logo tratei de apanhar uma, trazendo-a pra calçada. Me sentei ao meio fio no intento de quebrar aquele fruto comprido e lenhoso golpeando-o contra o concreto e após duas ou tres pancadas esfacelou-se, deixando o seu interior á mostra. Nunca vira uma vagem como aquela! Em todo o comprimento daquela "linguiça" haviam pequenas câmaras, uma seguindo a outra, mais ou menos a cada dois centímetros e separadas por uma membrana lenhosa. E dentro de cada uma dessas câmeras logo avistei o que procurava, uma semente oval e achatada com pouco mais de um centímetro de tamanho. Porém, apesar do aspecto seco da vagem a semente encontrava-se dentro de um líquido viscoso e pastoso, de cor marrom mais escuro do que sua casca. Um cheiro forte, adocicado e conhecido, porém distante e perdido em algum lugar de minha memória, exalava do interior da estranha vagem. Então introduzí e lambuzei meu indicador em uma das câmeras para extrair uma daquelas sementes grandes, bonitas e de cor ocre. Apertei a semente com as unhas e logo constatei alegremente, tratar-se de material muito duro, condição imprescindível para uso no atelier. Depois aproximei-a nos dedos lambuzados daquele "mel" marrom, até bem perto do nariz e ao cheirá-los profunda e vagarosamente, uma súbita lembrança logo rompeu-me a mente: uma memória dos tempos de infância, minha mãe colocando em minha boca uma colher com um xarope de sulfato ferroso, para prevenir a anemia! Lembrei-me até do gosto forte e esse cheiro que eu sentia agora era o mesmíssimo daquela lembrança tão clara (que parecia ter acontecido ontem). A súbita memória encorajou-me a provar uma pequena porção do líquido na ponta da língua, e o seu sabor só reforçou aquela lembrança. Obviamente desconhecendo suas propriedades tratei de cuspir algumas vezes e logo fui recolher as muitas outras vagens caídas e espalhadas pela grama. Demorei mais de um ano para descobrir que se tratava de uma acássia-rosa e que aquele líquido viscoso e adocicado era não só comestível mas altamente energético, medicinal e riquíssimo em ferro, he,he!
Na região amazônica alguns povos da mata a trituram e fervem com água. Depois de coada obtem-se uma bebida marrom escura e nutritiva, com alto teor de ferro e açúcares. Na América central, de onde a acácia-rosa também é nativa, populações rurais de Honduras, Costa rica e El Salvador a chamam de "carao" e mantém uma tradição passada através de muitas gerações: fazem o "extrato Carao", que misturado ao leite ou puro serve de repositor energético para trabalhadores do campo e crianças desnutridas. Também na Nicarágua produzem um fermentado de nome "vinho Carao".
O uso medicinal popular (muitos com comprovação científica) de partes dessa planta é bastante amplo, tornando-a uma verdadeira "farmácia viva": da raiz se extrai um antisséptico para feridas, bem como um tônico e febrífugo. A decocção de folhas, vagens e casca serve por via oral para tratamento de anemia, doenças hepáticas, gripe, tosse, infecção urinária e histeria. As folhas e frutos tem propriedades anti-sépticas, anti-anêmica, expectorante, mineralizante, tônica, sedativa, purgativa, diurética, adstringente e febrífuga. A pomada tópica das folhas é usada no tratamento de cortes, arranhões, feridas, micoses, vitiligo e herpes.
As bonitas são mesmo duríssimas e a variação dos tons ocre então... gamei.
Ganhei outra aliada.
Chamando a atenção na Av. Marcílio Dias, ao lado do quartel de bombeiros |
Soberana em frente a igreja do Rosário |
Outra na Casa da Cultura Macedo Miranda |
Endereços que recomendo:
http://www.biologados.com.br/botanica/taxonomia_vegetal/taxonomia_vegetal.htm
http://ainfo.cnptia.embrapa.br/digital/bitstream/CNPF-2009-09/44064/1/circ-tec151.pdf
http://ainfo.cnptia.embrapa.br/digital/bitstream/CNPF-2009-09/40890/1/circ-tec117.pdf
http://ler.letras.up.pt/uploads/ficheiros/9960.pdf
http://fernandolemos2.blogspot.com.br/search/label/A%20busca%20continua%3A%20Timburib%C3%A1
http://www2.camara.leg.br/responsabilidade-social/ecocamara/noticias/noticias-subpaginas/cassia
https://sobasombradasarvores.wordpress.com/arvores-exoticas/chorao-salix-alba/
http://es.wikipedia.org/wiki/Cassia_grandis
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