Stizolobium aterrimum
Vamos conhecer a respeito dessa trepadeira de flores estonteantes e cobiçada na agricultura.
Quem é chegado a plantar alguma coisa, mesmo que só um pouquinho, já deve ter lido ou ouvido falar em adubação verde, uma técnica relativamente simples e muito eficaz usada para melhorar as condições da terra onde vai se plantar. Existem registros da prática da adubação verde desde 1.200 a. C., durante a dinastia Chou, na antiga China e essa prática persiste e só vem aumentando no mundo moderno. E o que a mucuna-preta tem a ver com isso? Vou explicar:
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Gravura representando a prática milenar dos chineses na agricultura. |
A adubação verde consiste simplesmente em triturar e enterrar as plantas ainda vivas para que assim elas incorporem grandes melhorias no solo. Essass melhorias que a técnica proporciona aos agricultores são enormes, pra não dizer gigantescas, promovendo inclusive a retenção no solo, dos gases que provocam o efeito estufa. As plantas mais utilizadas para isso são da família das leguminosas (feijões em geral) porque elas tem um grande teor de proteína em suas folhas e raízes. Essa proteína ao se decompor acaba gerando nitrogênio, um dos nutrientes que as plantas mais necessitam, a letra N do conhecido adubo químico NPK.
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"Massa verde" picada e pronta para ser enterrada. |
Pois é, nos países tropicais e sub-tropicais a mucuna-preta é campeã quando o assunto é adubação verde. De crescimento ousado, pode produzir até 50 toneladas de massa verde em um hectare (10.000m²) e fixar biologicamente nesse solo, de 150 até 300 kg de nitrogênio. A adubação verde é orgânica e biológica, com vantagens indiscutíveis sobre a adubação química, sob o ponto de vista da saúde dos solos e dos cultivos, mas ambas podem complementar-se.
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Folha trifoliada com folíolos grandes e membranosos |
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Os botões de flor indicam o melhor momento para ser picada e enterrada.
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Pesquisas dividem opinião dos estudiosos sobre a origem desta planta. São apontados dois lugares completamente diferentes, um nas Antilhas-América central e outro na China-sudeste da Ásia. Também é denominada de velvet bean na Austrália, EUA e África do sul, de pica-pica na Venezuela, de frijol terciopelo na América latina e de bengal bean na Índia. Existem ainda a mucuna-branca, a mucuna-rajada e a mucuna-anã, com características parecidas.
A mucuna-preta pertence a uma família de plantas que tem a capacidade de não só usar, mas também fixar nitrogênio no solo, a família das leguminosas (leguminosae ou fabaceae). Ela é muito grande e extremamente bem suscedida, presente em quase todo o planeta, com excessão dos continentes ártico, antártico e algumas ilhas. Engloba desde ervas rasteiras de poucos centímetros como alguns carrapichos, a acácia-rasteira, o trevo-branco e o gergelim-bravo, pequenos arbustos como a lentilha, o amendoim, o grão-de-bico e todos os feijões que comemos, passando por çipós enormes como o olho-de-boi, por árvores de médio porte como o pau-brasil, flamboyant e pata-de-vaca bem como as gigantes florestais, árvores que podem atingir os 30 metros de altura, a exemplo do tamarindo, jacarandá e do jatobá.
Conhecendo um pouquinho de taxonomia de sua flor: inflorescência composta de rácemos (cachos) axilares (que brotam bem ao lado do talo da folha) multifloridos, corolas (pétala) violáceas e sépalas brancas (parte inicial da flor que dá suporte e sustenta as pétalas) ...
Seu ciclo de vida é anual, ou seja, nasce, cresce, floresce, frutifica e morre todos os anos e suas sementes lançadas ao chão germinam então na próxima estação chuvosa, do ano seguinte. É rústica, de crescimento bastante agressivo e rasteiro, emite ramos trepadores de muitos metros de comprimento, dominando rapidamente todo o espaço que ocupa, inibindo com eficiência as outras ervas concorrentes. Para essa trepadeira robusta o excesso de calor, sêca, sombra, acidês e infertilidade do solo não querem dizer quase nada. Pode ser cultivada desde o nível do mar até 2100 metros de altitude, características que a tornam preferida para se plantar.
A poderosa pode ainda substituir o arado mecânico pois sua enorme trama de raízes penetram e perfuram, rompendo solos compactados enquanto combatem aos nematóides, espécie de verme predador de raízes, responsável por sérias perdas nos cultivos. Depois que a planta morre suas raízes vão se decompor e o espaço que elas abriram na terra ou lage compactada, dão lugar a galerias e matéria orgânica com ótimo teor de nutrientes, principalmente o nitrogênio e mais uma infinidade de pequenas e micro-criaturas, seres que são parte integrante e indispensável de uma terra "viva" e saudável. A mucuna-preta também pode ser usada na alimentação do gado na forma de feno (seca) ou silagem (fermentada e úmida). Embora seu sabor tenha poucos atrativos, a alta produção de massa-verde com grande teor de proteína (mesmo em solos pobres) a fazem excelente opção para integrar rações e misturas. Na alimentação humana, suas sementes ou feijões são impedidos por possuírem algumas toxinas, uma defesa da planta contra seus predadores. Então para ser consumida por nós seria necessário durante o seu cozimento, trocar-se a água. Curiosamente em alguns estados do nordeste brasileiro a população rural tem o hábito de consumi-la como café, depois de torrada e moída. Em experimentos coduzidos recentemente nos laboratórios da UFPB / CCA / Campus III -Areia PB, ficou comprovado que dessa maneira, ao serem torrados e usados como café, nenhuma toxidade foi constatada no produto, legitimizando assim esse hábito expontâneo dos nordestinos brasileiros, proveniente da velha e boa sabedoria popular.
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Mudinhas plantadas ao pé da cerca em meados de fevereiro/2015 |
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...enquanto as que foram plantadas em novembro já haviam tomado toda a cerca. |
Neste ano plantei minhas mucunas em duas vezes, em novembro/2014 e praticamente 3 meses depois, no final de fevereiro/2015, outra flexibilidade que essa espécie permite. Enterrei as sementes ao pé da cerca, visando tirar partido de seu hábito trepador e assim ganhar uma cerca-viva temporária. As mudinhas logo foram se enroscando... No início de maio já haviam muitos cachos de vagens verdes com algumas já madurando, enquanto que os pés plantados em fevereiro encontravam-se em plena floração e ávidamente procurados por muitas criaturinhas...
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Arapuás, as anarquistas entre as abelhas: rasgam as sépalas e pétalas para atingirem o local do néctar. |
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Abelha do gênero Ápis ou européia/africana |
Do pouco que pude observar, flagrei alguns visitantes recorrendo ao néctar e pólem de suas flores. Um pássaro, a cambacica, e muitos insetos desde moscas, abelhas, vespas e borboletas, com toda certeza apenas uma pequena parte de seus usuários alados, sem falar nos noturnos.
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Abelha nativa mamangaba |
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Cambaçica ( Coereba flaveola) |
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Vespa social do gênero Polybia |
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Borboleta marrom |
Com tantas criaturas atuando na polinizção da mucuna-preta, é de se esperar uma grande quantidade de frutos (vagens) e sementes. Pois a cerca fartou-se de cachos e mais cachos dela.
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Cacho com 56cm., 33 vagens e 162 sementes (e umas 7 pulseiras, he,he,he) |
Após secar completamente a vagem literalmente estoura, lançando suas sementes a muitos metros de distância.
Alguns dos sítios pesquisados:
www.youtube.com/watch?v=oblZTL1gICE
www.ruralnews.com.br/visualiza.php?id=289
www.deag.ufcg.edu.br/rbpa/rev22/Art221.pdf
pt.wikipedia.org/wiki/Aduba%C3%A7%C3%A3o_verde
www.agronomia.com.br/conteudo/artigos_leguminosas_tropicais_mucuna.htm
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