Certa manhã, enquanto eu capinava o invasor capim braquiária nos fundos de meu terreno, descobri uma planta que logo chamou-me a atenção. Parecia um pé de cabaça, que a partir do brejo foi se esparramando por cima do capim. Como havia plantado cabaças em anos anteriores achei que aquele pé pudesse ser de alguma semente caída ao acaso. Nas semanas seguintes ele se esticou, cresceu e logo trepou na cerca de arame farpado. Depois de poucos dias floresceu e conforme o fruto foi crescendo, descobrí se tratar de um pé de Bucha-Vegetal! Fui pesquisar para descobrir quais usos eu poderia ter com essa curiosa fibra em meu atelier, e acabei descobrindo coisas maravilhosas sobre esta espécie, a Luffa aegyptiaca, a bucha-vegetal que trato nesta postagem.
A bucha-vegetal é uma planta trepadeira da família das cucurbitáceas (a mesma da abóbora, melão, pepino e chuchú) pertencente ao gênero Luffa. São reconhecidas quatro espécies de bucha ao redor do mundo: Luffa cylindrica, Luffa aegyptiaca, Luffa acutangula e Luffa operculata. Suas folhas são grandes, ásperas e verde escuras, que lembram a forma de uma mão aberta. Possui flores amarelas e seus frutos se assemelham ao pepino. De acordo com a espécie os frutos apresentam tamanhos variados, podendo medir desde 5 cm a até mais de um metro de comprimento. Eles são cilíndricos, alongados e podem ser lisos ou angulosos.
A Luffa aegyptiaca mede entre 20 e 30cm de comprimento |
Luffa acutangula com tamanho médio de 30cm |
Bucha-de-metro (Luffa cylindrica) chega a 1,20 m |
Buchinha-do-norte (Luffa operculata) com apenas 5cm é altamente tóxica |
A Bucha Vegetal é natural dos continentes africano e asiático e também é conhecida como Esponja-Vegetal, Bucha-dos-Paulistas, Bucha-dos-Pescadores, Bucha-dos-Caçadores, Abobrinha-do-Norte, Maxixe-do-Pará, Pepino-Bravo, Purga-dos-Paulistas, Purga-de-João-Pais, Cabacinho, Cabacinha, Esfregão, Fruta-Cocta, Fruta-dos-Paulistas, Gombô-Grande, Mamalongo e Quingombô-Grande. Em outros idiomas é conhecida como: Spongo (Esperanto), Pashte (Guatemala), Susemi (Coréia), Loufa (França), Musú (República Dominicana), Paste (El Salvador). Em inglês, pode ser conhecida como bath sponge, angled luffa, ridge gourd, ridged luffa, chinese okra, sponge gourd ou towel gourd.
NA HIGIENE PESSOAL, LIMPEZA, ALIMENTAÇÃO, MEDICINA E ARTESANATO.
No banho. A bucha vegetal é cultivada especialmente pelas fibras do seu fruto seco, pois essas fibras são finas, resistentes, elásticas e macias sendo usadas principalmente como esfregão de banho. Hoje é uma matéria prima importante e bastante valorizada no setor cosmético, para a produção de sabonetes e esponjas, entrando como esfoliante natural, eliminando células mortas, limpando, abrindo os poros e ativando a circulação sanguínea. Não deve ser utilizada todos os dias pois ao se retirar excessivamente as células mortas da pele, ela pode ficar muito sensível e propensa a irritação. Recomenda-se a sua utilização, no máximo duas vezes na semana.
CUIDE DA SUA BUCHA
Também alguns cuidados devem ser tomados com a sua bucha pois elas podem passar a abrigar e transmitir algumas bactérias nocivas como a Pseudomonas aeruginosa, responsável por muitas infecções hospitalares, como afirma Karlla Patrícia, bióloga com mestrado e doutorado pela URFJ:
"A umidade do banheiro, juntamente com a pouca circulação de ar e o emaranhado de fibras da bucha compõem um ambiente ideal para cultivo e proliferação desta bactéria. No início do uso, as buchas podem ser consideradas higiênicas, pois até que as fibras percam toda propriedade bioquímica, as bactérias tendem a se afastar. O problema é que todo mundo espera que a bucha fique molinha, quando é mais agradável de usar na pele. É nesta fase que a bactéria nos recantos da matriz fibrosa da bucha e domina tudo. Cada vez que a bucha é molhada os organismos se proliferam mais.
Achando que está se limpando com um sabonete cheiroso, você na verdade está esfregando bactérias no corpo podendo desencadear uma infecção estafilocócica. Sim, nosso corpo possui uma barreira contra as bactérias indesejáveis, no entanto, qualquer ferida (até mesmo um cutícula retirada da unha) pode se infestar com esta bactéria. Os especialistas garantem que se deve tomar algumas medidas simples, diminuindo a festa bacteriana na sua bucha.
1 – Deixe a bucha secar completamente entre um banho e outro. Antes disso lave-a com sabão e enxague abundantemente. O ideal é que seque ao ar livre ou no sol.
2- A janela do banheiro e a porta do box precisa estar sempre aberta.
3- Se a bucha mudar de cor, tiver mau cheiro ou ficar gelatinosa, significa que existe uma cultura farta de bactérias. Troque a bucha.
4- Uma ideia legal para ser feita de vez enquanto, é colocar sua bucha no micro-ondas. Já ficou comprovado que este aparelho é um ótimo bactericida.
5- Poderá também banhar sua bucha regularmente em uma solução de 5% de água sanitária"
Assim a bióloga em sua publicação, atenta para os cuidados necessários (e que quase ninguém tem) com o uso de suas buchas no banho. Acrescento ainda que também pode-se fervê-la em água por alguns minutos uma vez por semana e supondo-se que seja utilizada diariamente, deve ser descartada e substituída a cada 3 semanas.
Pra lavagem de louça é mais barata, não risca e é bem mais difícil de ser contaminada do que uma esponja sintética tradicional, de plástico poliuretano obtido a partir do petróleo e que ao ser descartada, torna-se um poluente de difícil degradação. Ao contrário, é um produto biodegradável e, por isso, é a opção mais sustentável a ser utilizada no dia-a-dia, além de contribuir política e socialmente uma vez que são produzidas pela agricultura familiar.
Amplo uso no artesanato |
Como alimentação. Os pequenos frutos verdes (menores que 6 centímetros), formados pouco tempo depois que ocorre a fecundação da flor, são comestíveis e bastante apreciados no meio rural em refogados, cozidos e saladas, como fazemos com a abobrinha, chuchú e também o pepino.
Na China, Filipinas e em vários países asiáticos este fruto é cultivado, vendido e consumido como um legume qualquer. Tem sabor suave como chuchu ou caxi, mais suave que maxixe. Com ele se fazem sopas, frituras, refogados, bolinhos, mas o miolo escavado do fruto também aceita recheios para gratinar ao forno. Pode ainda virar suflê, cremes e qualquer prato em que ele possa entrar no lugar do chuchu ou do maxixe. E como é crocante e agradável no sabor, pode até ser comido cru em saladas ou em conserva, como chuchu ou pepino. As sementes molinhas estão encravadas na polpa e não precisam ser tiradas.
Também dependendo da variedade, os frutos podem ter um leve amargor - contem um princípio amargo de nome luffeína. São nutritivos, ricos em minerais como cálcio, ferro e fósforo, além de vitaminas, como outros legumes da mesma família. E não só os frutos são comestíveis como também os brotos, usados como cambuquira
Uso medicinal. As propriedades e utilidades da bucha vão ainda mais além! Quando cultivada, as folhas, frutos e sementes são usadas para fins medicinais na prevenção de doenças como anemia, bronquite, asma, hemorragia, rinite e sinusite. Sua ação expectorante garante o alívio de dores de cabeça, falta de ar e demais incômodos ocasionados por problemas respiratórios, podendo ser utilizado como soro para lavar e umedecer as narinas e vias respiratórias. É indicada também para amenorréia, anemia, nefrites, hidrópsia, bronquite crônica, afecções da pele, afecções do fígado e verminose. Suas propriedades são: emenagoga, carminativa, antihelmíntica, diurética, laxativa e tônica. As partes mais utilizadas da planta são: folhas, frutos e sementes.
A polpa do fruto da luffa cylindrica madura ou "de vez" é usada popularmente em infusão como purgativa e vermífuga. São 8 gramas para um copo de água fervida. Caules e folhas têm seu uso nas pertubações do fígado, prisão de ventre e anemia. A polpa do fruto da luffa operculata tem também uso popular no combate a sinusite: coloque meia buchinha do norte seca, sem pele e sem sementes em um litro de água, fervendo por dois minutos. Deixe amornar tampado, coe, acrescente 1 colher sopa de sal de cozinha, mexa bem e pingue duas gotas em cada narina a cada quatro horas por no máximo quatro dias.
Cuidado com os efeitos colaterais: em altas doses a Luffa operculatta (buchinha-do-norte) é extremamente tóxica, causando hemorragias e acidentes fatais. Sua utilização não deve se prolongar por mais que o indicado e deve ser interrompido seu uso imediatamente em caso de dor de cabeça. Também é muito utilizada em regiões rurais como purgativo para aves.
Cultivo simples. A bucha vegetal está muito presente na vida do brasileiro e sempre foi muito fácil encontrá-la nas prateleiras de supermercados, drogarias, feiras livres e armazéns. Porém, o que pouca gente sabe é que seu cultivo também é muito simples e pode ser feito até em casa sem grandes esforços. A planta adaptou-se bem ao clima e solo brasileiro e foi incorporada aos costumes da população. Mesmo nos anos 50, quando as esponjas sintéticas invadiram o mercado a bucha nunca perdeu seu valor. Hoje, o cultivo desta planta se torna mais importante ainda porque, sendo um produto de origem vegetal de fonte renovável, o seu cultivo, uso e descarte não agride o ambiente. Mesmo após a sua utilização a bucha vegetal pode ser incorporada a uma composteira e ser usada como adubo orgânico.
O cultivo é simples, mas ele exige alguns cuidados para se obter frutos de boa qualidade.
Cultivo em cerca |
Aqui no sudeste brasileiro o plantio se dá com a chegada das chuvas, a partir de outubro e no máximo até dezembro. É uma planta rústica e pouco exigente quanto á fertilidade do solo mas gosta de muito sol e não tolera geadas. Entretanto um plantio em covas bem adubadas resultará em frutos maiores. O espaçamento das covas é de 3x3m e no início do crescimento as capinas são importantes. Costuma-se tutorar com mourões e arame enfileirados, ao longo dos pés para que a planta possa trepar. Outro costume é o de se plantar ao longo de cercas.
Três meses depois do plantio, surgem às primeiras flores e logo começa a visita dos insetos. Várias espécies de abelhas, vespas, moscas besouros e borboletas trabalham na polinização, transformando flor em fruto. No quinto mês após o plantio, inicia-se o processo de maturação e a colheita das buchas, que pode estender-se por até quatro meses. Para obter uma bucha clara e com qualidade de fibra, o fruto deve ser colhido antes da maturação completa (de vez), quando a sua casca começa a amarelar .
Algumas das Luffa aegyptiaca que colhi |
Colhidas maduras, tratadas e postas a secar |
Os frutos secos no pé também podem ser aproveitados como bucha embora os frutos maduros colhidos e descascados sejam os melhores para a obtenção da esponja. Quando secos, ao se cortar uma de suas extremidades as numerosas sementes serão facilmente liberadas. Após, a esponja fibrosa deve ficar de molho em água e sabão por um dia, para depois ser lavada e colocada a secar na sombra. Porém quando secam no pé, algumas ficam escurecidas, devido a ocorrência de môfo de e precisam ser tratadas para clarearem. Para isso basta submergi-las durante cerca de 30 minutos ou mais em uma mistura de água com cloro até clarearem, antes de serem levadas para secar.
A Bucha que séca no pé pode ficar com suas fibras escurecidas |
Minhas buchas colhidas secas, depois lavadas, alvejadas e secando á sombra |
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Referências
https://repositorio.ufrn.br/jspui/bitstream/123456789/21147/1/MariaKalionaraDeFreitasMota_TESE.pdf
http://dica.ufu.brdica-sys/pdf/24504.pdf
https://tede.ufam.edu.br/bitstream/tede/5352/5/Tese%20-%20Ariel%20Dotto%20Blind.pdf
http://belezadacaatinga.blogspot.com.br/2011/11/bucha-vegetal-luffa-cylindrica.html
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http://www.sitiotibau.com.br/index.php?option=com_content&view=article&id=57&Itemid=78
http://diariodebiologia.com/2014/08/quem-usa-bucha-vegetal-para-tomar-banho-pode-estar-cometendo-um-grande-erro/#.VWmWO9JViko
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http://www.jardineiro.net/plantas/bucha-luffa-cylindrica.html
http://www.pensamentoverde.com.br/dicas/aprenda-plantar-bucha-vegetal-saiba-sao-beneficios/
http://come-se.blogspot.com.br/2010/06/bucha-paulista-maxixe-do-para-uso.html
http://revistagloborural.globo.com/GloboRural/0,6993,EEC1051338-2584-3,00.html
https://jurovalendo.com.br/2016/11/16/bucha-vegetal-combate-celulite/
http://g1.globo.com/sp/ribeirao-preto-franca/jornal-da-eptv/videos/v/buchas-vegetais-sao-utilizadas-na-confeccao-de-bonecas/2636432/
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